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Portela e Um Defeito de Cor

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No ano de 2024, a Portela leva para a Marquês de Sapucaí “Um Defeito de Cor”. O livro é escrito por Ana Maria Gonçalves, mineira e publicitária de formação, que depois de uma intensa rotina morando em São Paulo e atuando em sua área, decidiu passar um tempo na Bahia, onde se entendeu como ficcionista. 

O romance retrata Kehinde e sua trajetória desde seu nascimento em Benin, atual Daomé, passando pelo momento onde foi escravizada e seu retorno à África como mulher livre, mas sem seu filho.

A imagem de mãe é uma imagem forte em solo brasileiro, sendo pensada desde o conceito de Virgem Maria ao sincretismo com as orixás Oxum, Iemanja, Nãnã e sua relação com a origem e o nascimento, com a Portela não é diferente.

A GRES Portela em 2023 completou 100 anos, se tornando a primeira agremiação centenária. Ela, que é tida entre as demais escolas como Majestade do Samba, a mãe de todas, vem sendo lida também como a Iyalorixá do Samba, termo no candomblé para Mãe de Santo ou Zeladora de Santo, aquela que cuida.

Ser colocado nesse lugar de maternidade para a Portela, e não de pioneirismo como as  demais agremiações como a GRES Mocidade Independente de Padre Miguel em suas contribuições, mostra uma relação de carinho e afeto que a águia entrega, desde o nome de sua escola mirim “Filhos da Águia”, até seu entendimento como a centenária, a madrinha, mãe de todas.

Ao longo da história do samba, enxergamos essas relações de outras agremiações para a Portela, que acerta ao se entender nesse espaço de matriarca. Em alguns dos sambas que estão se propondo a representar a história que a agremiação pretende levar à avenida em 2024, temos algumas citações fortes que traduzem essa relação.

Na parceria do compositor Samir Trindade, é feito uma escolha simbólica para representar a qualidade da escola como mãe:

“Seu colo africano é meu lar 

Orgulho meu, ser filho da Águia”

É implícita a relação da Portela com a ancestralidade, e o ato de originar. Na parceria de Rafael Gigante e Wanderley Monteiro, temos uma noção de resgate a esse sentido enquanto firma um paralelo com o romance de Ana Maria Gonçalves através de linhas como:

“Salve a lua de Bennin 

Viva o povo de Benguela 

Essa luz que brilha em mim 

E habita a Portela 

Tal a história de Mahin 

Liberdade se rebela 

Nasci quilombo e cresci favela!”

Por fim, é possível ver na Portela a figura materna do carnaval, esse afeto de mãe, vó, tia, esse saber de mulher preta que cria e gera, que movimenta e se fortalece sem romantizar sua história, mas entendendo seu passado como um lugar de força e verdade, como no samba de seu centenário: “Vencemos mesmo marginalizados!”.

Volto a citar a parceria de Rafael Gigante e penso em todos aqueles que vieram antes de mim, aqueles que com força e bravura lutaram por um Brasil preto, aqueles que mantiveram viva uma cultura por anos de opressão para que hoje possamos estar presentes, mesmo que ainda tenha muito caminho a se percorrer.

Saravá Keindhe! Teu nome vive! Teu povo é livre! Teu filho venceu, mulher!

Referências: 

http://www.letras.ufmg.br/literafro/autoras/443-ana-maria-goncalves

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