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PROFESSORES NEGROS: AQUELES QUE ENFRENTAM O SISTEMA E CONSTROEM A EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA NO BRASIL – Millena Salles

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Ser professor no Brasil é um ato de resistência cotidiana. Em meio a uma realidade marcada por desafios estruturais, desigualdades sociais e desvalorização profissional, esses educadores desempenham um papel fundamental na construção do futuro de inúmeras gerações.

Mais do que transmitir conteúdos escolares e acadêmicos, os chamados mestres – não por acaso – são constantemente atravessados por histórias de vida que refletem as diversas camadas de disparidade social experienciadas em nosso país. E, muitas vezes, se deparam até mesmo com situações que também já enfrentaram em suas próprias trajetórias, como o racismo.

Para os professores negros, o cenário educacional é ainda mais árduo. O racismo estrutural transpassa todas as áreas de suas vidas, influenciando tanto suas oportunidades profissionais quanto o reconhecimento que recebem em suas carreiras – onde, infelizmente, durante a maior parte do tempo os seus conhecimentos não são tão estimados como os de seus colegas brancos.

Em um sistema educacional inserido em uma sociedade marcada pela desigualdade racial, a sala de aula se torna um espelho dessas dinâmicas e também um espaço onde as violências simbólicas da sociedade se manifestam. Contudo, felizmente, os professores enxergam para além desta perspectiva, e possuem habilidades que os fazem capazes de moldar os ambientes de aprendizagem de maneira em que seja possível lutar contra um sistema que perpetua essas interseccionalidades. 

Sendo assim, ao levarmos isso tudo em consideração e compreendermos a importância dessa profissão, que assume o enorme compromisso de estimular o outro a pensar e criticar o mundo a sua volta,  podemos dizer que insistir lecionar no Brasil  é mais um grito de resistência da negritude. Principalmente diante do contexto educacional que se perdura no país ao longo de todos esses anos.

A desvalorização profissional também aparece como um dos aspectos mais notáveis dessa batalha diária dos nossos educadores. Com salários baixos, condições de trabalho precárias e falta de infraestrutura, muitos docentes enfrentam uma carência de recursos que afeta diretamente a qualidade da educação que oferecem. Em várias regiões, as escolas e universidades padecem com a falta de investimentos, e o ambiente de aprendizado é frequentemente inseguro, tanto para alunos quanto para todos os profissionais dessas instituições. A violência, tanto física quanto psicológica, é uma constante na rotina de muitos educadores, que precisam além de ensinar, gerir conflitos, combater preconceitos e lidar com a indiferença dos governos e, muitas vezes de maneira inconsciente, da sociedade também.

Os professores negros, em especial, não apenas enfrentam discriminações raciais em suas vidas, como também atuam como figuras essenciais na desconstrução de narrativas racistas dentro das escolas e universidades. Frequentemente, são eles que introduzem discussões sobre representatividade, história afro-brasileira e teorias sobre racialidade, desafiando um sistema educacional que historicamente silenciou vozes e saberes racializados. Eles se tornam verdadeiros instrumentos para  transformações profundas, impactando diretamente a vida de crianças, jovens, adultos e idosos que também convivem com a exclusão racial e social.

Apesar de tamanhas adversidades, os professores seguem firmes, movidos por um admirável ideal de justiça e transformação. São eles que, diariamente, resistem ao sistema hegemônico branco em que estamos estabelecidos, que sonham e projetam um Brasil mais justo e consciente. São os professores que têm feito a diferença na vida de milhares de estudantes ao redor do nosso país, convivendo com histórias de violência, abandono e falta de perspectivas, mas também testemunhando o potencial de mudança que a educação carrega e é capaz de produzir. 

Mesmo desvalorizados e, muitas vezes, ignorados pelas políticas públicas e pela própria sociedade, os professores brasileiros, especialmente os negros, são mais que transmissores de conhecimento: são construtores de futuros possíveis, são os precursores de realidades mais respeitosas que só poderão ser alcançadas através da educação.

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