Ontem (02) retornamos às nossas atividades com um encontro super potente do nosso grupo de estudos. Debatemos sobre o livro “Descansar é resistir – manifesto” escrito pela artista Tricia Hersey, autodenominada como a Bispa do Cochilo. Tricia é fundadora do “Ministério do Cochilo”, uma organização que estuda o descanso como forma de resistência e promove experiências de cochilos coletivos a partir de oficinas imersivas. A apresentação do texto foi feita pela professora Fernanda Carrera.
A escrita de Tricia Hersey possui influências da teologia, do afrofuturismo e do ativismo antirracista e anticapitalista, mas é na sua ancestralidade e nas vivências da sua família no contexto estadunidense que as palavras da autora encontram materialidade. A partir do corpo da sua ancestralidade, exploradas por exaustivas atividades laborais, ela pensa que a libertação desse paradigma está na recusa da lógica capitalista de produtividade como sinônimo de utilidade. Nesse sentido, Tricia reivindica para si o sonho, a alegria e possibilidades de descanso.

Neste livro somos convidadas a uma reconexão com o nosso próprio tempo. Ao passo em que a lógica do capital afirma que “tempo é dinheiro”, precisamos reconhecer os limites dos nossos corpos e respeitar o nosso tempo. Estamos atravessando um momento em que as máquinas estão substituindo o trabalho de pessoas reais, competimos com a inteligência artificial e sua constante evolução. Por isso, descansar é também reconhecer a nossa humanidade.

No encontro do nosso grupo de estudos refletimos também sobre a produtividade excessiva como uma manifestação do trauma reflexo da escassez e das violações psicossociais, os desafios para o descanso após a pandemia, as dificuldades que os trabalhadores autônomos encontram frente à aceleração do mercado de trabalho e a romantização das práticas de descanso.
Podemos dizer que iniciamos muito bem esse período, com muitas trocas e reflexões importantes. Abaixo você encontra algumas sugestões do grupo para seguirmos refletindo sobre esse tema:
Livros:
Performances do tempo espiralar: Poéticas do corpo-tela – Leda Maria Martins
A vida não é útil – Ailton Krenak
Cosmopoéticas do refúgio – Dénètem Touam Bona
Entrevista:
Taís Araújo conta sobre dificuldade em dizer “Não” para o trabalho – Entrevista para videocast do O Globo: Entrevista na íntegra, disponível no Youtube
Hellen Freitas
Graduanda em Psicologia (IP/UFRJ) e Bolsista do Laboratório de Identidades Digitais e Diversidade.