Na semana passada, nosso grupo de estudos do LIDD se reuniu para mais um encontro potente. A leitura discutida foi o livro A terra dá, a terra quer, do mestre Nego Bispo, liderança quilombola do Quilombo Saco-Curtume (PI) e pensador da contracolonialidade.
A apresentação ficou por conta da bolsista Hellen Freitas. Iniciamos a discussão do capítulo Semear Palavras, em que o autor parte da própria memória para propor uma escrita enraizada no território, nas relações e nos saberes ancestrais num movimento que dialoga também com a escrevivência de Conceição Evaristo.
Nego Bispo denuncia a desterritorialização como um processo de adestramento, que rompe com a identidade, desconecta os sujeitos de suas cosmologias e impõe modos de vida coloniais. Como resposta, ele propõe uma “guerra de denominações” que reinventa a linguagem para resistir à lógica colonial:
Desenvolvimento sustentável → Biointeração / Coincidência → Confluência / Saber sintético → Saber orgânico / Transporte → Transfluência / Troca → Compartilhamento / Colonização → Contracolonização
A discussão percorreu também autoras como Lélia Gonzalez e Audre Lorde, ao refletir sobre o poder de se nomear, se autodefinir, afirmar nome e sobrenome como gesto político. Hellen compartilhou ainda a curiosidade sobre o uso da gualin do ttk, uma forma de linguagem codificada utilizada por populações negras e periféricas durante a ditadura, como estratégia de resistência e comunicação. No capítulo Cidade e Cosmofobia, Bispo aponta a cidade como território artificializado, exclusivo para humanos, e denuncia a cosmofobia como expressão do medo cultivado pelo monoteísmo, gerando desconexão com o meio, os animais e os saberes comunitários. Em Somos Compartilhantes, ele afirma: “somos começo, meio e começo” — evocando uma temporalidade circular e relacional. Já em Arquitetura e Urbanismo, critica os modelos modernos que ignoram os sentidos comunitários e espirituais do viver em território.
Encerramos o encontro refletindo sobre como a escrita de Nego Bispo confronta realidades não-quilombolas, propondo alianças entre favelas, quilombos e aldeias. Suas palavras nos provocam a romper com a colonialidade do saber e a reconstruir sentidos a partir do corpo, do território e das práticas compartilhadas.
Foi um encontro de muitos compartilhamos e aprendizados. Por aqui, seguimos semeando palavras e confluindo!
Para seguir refletindo sobre o tema, deixamos abaixo algumas sugestões do grupo:
Nego Bispo – Trajetórias: https://www.youtube.com/watch?v=Tqt9BnrolFg
Tributo ao TTK: https://www.youtube.com/watch?v=PtuEEXcr5dI